Documentação

“… um original sabor artístico”.
“A muleta tem o fundo largo e chato; a proa excesivamente boleada, remata em arrufado beque; a popa, muito inclinada, recua em cima; característicos estes que, juntos ao grande amassamento dos blancos, dão ao casco o aspecto de uma tosca naveta normanda do século XIII.”
“O aparelho da muleta compõe-se de um mastro, muito inclinado para vante, onde iça a verga de uma vela grande triangular, latina, e de dois compridos paus, denominados batelós, deitados pela proa e pela popa, que servem para amurar e caçar as outras velas, e, ao mesmo tempo, para nas extremidades amarrarem os cabos que seguram a rede, quando esta funciona. À ré, caça no extremo dos batelós um triangulo, que iça na pena da vela grande, denominado varredoura de cima, e por baixo, outro, a varredoura de baixo; e em estaes que vão da cabeça do mastro para a roda de proa e para o batelós da vante içam uma seis a sete pequenas velas, chamadas toldos, muletins, varedoura e cozinheira, que segundo o seu número, compensam o efeito das velas da ré, quando a embarcação se mantém atravessada, durante a pesca.”
“As muletas largam a rede próximo da embocadura do Tejo, no começo da enchente, e, mareando o panno, vão caindo ao longo da costa da Trafaria e margem do sul, montando o pontal de Cacilhas e continuando a derivar pelo Mar da Palha, até terem completado o lance, recolhendo então a rede.”
A. Baldaque da Silva, A Muleta de Pesca, Arte Portuguesa, Ano I, nº 5, Maio, 1895, pp.98-102.







“ Em 1620 Fr. Nicolau de Oliveira observava no rio Tejo « muitos barcos pequenos a que chamamos moletas (Fr. Nicolau de Oliveira, Livro das Grandezas de Lisboa, 1620, p.91). Estas embarcações típicas dos pescadores do Seixal e Barreiro vieram a morrer no Tejo, nas primeiras décadas do nosso século, apesar de Ramalho Ortigão já em 1876 chamar a atenção para o seu fim: « e as elegantes muletas do Seixal, que infelizmente tendem a desaparecer da nossa baia» (Ramalho Ortigão, Farpas, Tomo II, Lisboa, Livraria Clássica Editora, s/d, p. 110)” António Nabais, História do Concelho do Seixal – Barcos, Seixal, Câmara Municipal do Seixal, p.20.